6/15/2007

Indianápolis 2005

Relembrar é viver, eu ontem sonhei com você...


- O trecho desse samba enredo me fez lembrar que estamos em semana de Grande Prêmio dos Estados Unidos e mais uma vez o contrato de renovação do autódromo com a Fórmula-1 está em voga. Tudo isso porque em 2005 a Michelin pensando na segurança de seus pilotos resolveu simplesmente abandonar a prova, que acabou tendo a participação de apenas 6 carros.

- Abaixo um texto que escrevi no dia seguinte, não lembro onde foi veiculado, mas escrevi, quando ainda era comentarista da Rádio Tupi-AM aqui em São Paulo. Segue:

- Mais uma vez tudo me pareceu um teatro, não a ida dos carros pro Grid e sim a parada de todos os carros da Michelin. Posso até estar maluco mas acho que a intenção da Michelin não era abandonar o Grande Prêmio. Disse isso ontem na Tupi discretamente pois mesmo estando tão distante do foco ainda tive o receio de ser leviano. O que eu acho é que na verdade a Michelin não quis abandonar a corrida a sim atrasar sua largada pra que houvesse mais tempo para uma negociação e quem sabe assim conseguisse o que queria (a construção de uma chicane na curva 13) através da mais estúpida das pressões.

- Vou pela ordem dos fatos do que imagino ter acontecido:

- Bernie Ecclestone passa o comunicado à FIA dizendo que a chicane não seria feita e quem quisesse correr correria, esse é fato conhecido.

- Mas alguém se pergunta:
"O que fazer???" e a resposta teria sido: "Não sei, manda todo mundo pro Grid e a gente vê o que faz..."

- Todos no Grid, chega a ordem da Michelin pra que as equipes recolham seus carros aos boxes depois da volta de apresentação. Quando provavelmente alguém disse: "não abandonem a prova, apenas recolham os carros, vamos tentar melar isso aqui..." (Tem coisas que só mesmo em nossa língua de origem conseguimos expressar um sentimento, a língua portuguesa é riquíssima para isso, é claro que ninguém usou a expressão "melar", mas se conhecessem essa palavra é isso que falariam....

- Até então claro que eu não tinha pensado nessa teoria, mas estava aflito, por mais que a gente não possa prever que algo vai acontecer de errado a atmosfera que fica no ar deixa a gente assim.

- A comunicação de David Coulthard com os boxes da Red Bull já me deixou com a pulga atrás da orelha, pensei:

- "Se depender dele ele participa então pq está recolhendo o carro???".

- Nos pits a impressão que a imagem dos boxes da McLaren dava é que seria feita uma troca de pneus, quando de repente todos os carros param nos boxes (talvez acostumado com as corridas mais antigas quando eu era pequeno quando havia um acidente e vários carros abandonavam era uma correria só pra relargada e o meu pensamento era de que a corrida demoraria pra começar), a imagem me chamou a atenção e me fez pensar que havia alí uma tentativa de se atrasar a prova pra que se continuassem as negociações. Os carros não abandonaram a corrida, não aos meus olhos pelo menos.

- Nos acostumamos com a imagem de um carro abandonando uma corrida. O vemos entrar de frente à garagem com o piloto já batendo a mão no cinto de segurança, o que não aconteceu. Todos os carros pararam em frente os boxes e foram manobrados pelos mecânicos pra que entrassem de ré e ficassem com o bico apontado pra fora.

- Não me sai da cabeça a imagem de Fernando Alonso dentro do carro com a viseira aberta porém com o cinto apertado, luvas, quieto, olhando o monitor. A mesma imagem do piloto que está parado nos boxes esperando sua vez de sair pra pista e fazer a volta de qualificação pro grid.

- Passaram-se 3 voltas, sei lá, estava meio atônito com aquilo, até que os pilotos começaram a sair de seus carros com um ar de quem pensa: "é, não deu certo!"

- Foi mais ou menos assim que vi esse vergonhoso Grande Prêmio dos Estados Unidos, não deu certo a negociação antes da prova então tentaram jogar a responsabilidade pra cima de todos os outros fazendo com que a corrida fosse atrasada ou reiniciada com as exigências da Michelin, não esperavam que FIA fosse ignorar o que estava acontecendo.

- Ora, mas por quê criticam tanto a o fato? Em maio de 1994 não é isso que gostariam que tivesse acontecido no Grande Prêmio de San Marino? A pista não estava perigosa também? Naquele momento ninguém pensou em ninguém e dois pilotos morreram, ontem a corrida praticamente não aconteceu e assim ninguém saiu ferido, melhor assim.

- Não creio que tinha alguém pensando mesmo na segurança dos pilotos (isso no domingo, sábado até acredito), queriam sim ganhar uma queda de braço. Acho que se não tivessem tido a idéia de recolher os carros aos boxes a corrida teria sido realizada normalmente, quem sabe o que poderia ter acontecido?.

- Mas o que não me sai da cabeça é que os carros não abandonaram a prova, apenas se recolheram aos boxes e acabaram se dando mal, o teatro não enganou a platéia. O tiro saiu pela culatra e acabaram ficando fora de uma prova que ninguém queria abandonar, abandonaram sem querer.


Acessem http://www.blogf-1.blogspot.com/, é o blog do Felipe Maciel, que encontrou um belo vídeo da largada do Grande Prêmio dos Estados Unidos de 2005.

1 comentários:

Felipe Maciel disse...

CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP

Brilhante seu texto, Garcia. Sua visão sobre os fatos são bastante interessantes, ainda não tinha observado o incidente por esse ponto de vista. E a comparação com Ímola é totalmente válida. Muito bom, parabéns! Belo texto.